TEMPO MULHER
Quanto vale um tempo? Vinte e quatro horas!? Sessenta minutos!? Ou o que fazemos dele!? Supostamente a nossa dedicação no decorrer da vida, irá atribuir o seu verdadeiro valor que está além de qualquer temporalidade pré-determinada.
O mundo globalizado e suas irresistíveis tecnologias nos faz, a cada dia, reféns de nós mesmos num tempo em que o tempo é o vilão e o herói de nossas vidas e de nossas trajetórias.
Albert Einstein em sua “Teoria da Relatividade” incentivou a pensar na possibilidade de viajar no tempo. Cientistas e pesquisadores até acreditaram em ser possível. Ledo engano!? Bom, poderia dizer que sim, é possível viajar no tempo. Não naquelas viagens fantásticas de Herbert George Wells (A máquina do Tempo). Mas de uma viagem sem o deslocamento do corpo. Nessas condições o tempo se torna atemporal. Imortaliza-se em uma aventura mental de dar inveja a qualquer volta ao mundo “julioverniana”.
Entretanto, o tempo não pode ficar preso somente na memória do aventureiro. Precisa sair. Se mostrar a tantas outras mentes que por alguma razão ainda não partiram em suas próprias aventuras. Isso irá imortalizá-lo na coletividade de uma sociedade que a cada dia necessita de mais e mais tempo.
E esse mesmo tempo, encontra-se aqui imortalizado, sereno, calmo e tranqüilo em meio as intempéries de um tempo sem muito tempo para refletir.
Tempo imortalizado nas obras de Carla Marinho que, trabalhando com interferências em telas e tendo como referência icônica texturas de madeira, estabelece relações dialógicas com a mesma, imortalizando a vida já sem vida da matéria, incentivando-nos, com seus “indícios” formais, a refletir na urgência por uma consciência ambiental, pois somos os principais responsáveis pela agressão à nossa própria vida. E nosso tempo que já não era tão longo se torna a cada dia mais curto.
De um tempo imortalizado, também, por Irê Peixe que se apropria da iconicidade híbrida, misturando sua própria vida à realidade icônica urbana de Macapá. Transpondo-nos a um surrealismo bem presente, remetendo a um quase sonho, onde os sulcos de sua própria vida misturam-se a uma coletividade humana.
Tempo imortalizado também por Silvia Marília, que a partir da iconicidade étnica, busca elementos que justifiquem a multiculturalidade brasileira em uma conversa quase antropofágica, misturando em suas cores e formas elementos regionais que dialogam e contracenam com a pluralidade cultural, propondo-nos a nossa própria identidade.
Tempo também imortalizado por Ghazia Brito que trata da própria leveza e sensibilidade do ser. Suas angústias, seus valores, seus medos e emoções estampados em uma quase busca ulterior feminina, propondo um certo equilíbrio composicional e corpóreo em sua obra, fazendo refletir, sutilmente, em um “tempo feminino”.
E o que faz dessas mulheres serem tão especiais? Diria que o próprio tempo, que elas internalizam e processam em suas particulares e coletivas vidas, lapidando e extraindo os excessos até encontrarem a mais pura e perfeita forma. Sim, mulheres especiais que viram em suas próprias condições femininas a forma de imortalizar no tempo e no espaço, suas vidas, recheadas de tantas outras vidas que se entrelaçam em meio a uma sociedade, repleta de tantos signos, ícones e símbolos que precisam ser imortalizados para nunca caírem em nosso esquecimento e que nos façam refletir sobre todas as coisas e, o que é mais importante, sobre o tempo e o que fazemos com ele.
Mas o tempo é de todos nós. Das Carlas, das Irês, das Silvias, das Ghazias que continuam imortalizando, aprisionando e libertando o próprio tempo com uma estratégia heróica. Imortalizando no tempo um tempo reflexivo, ou poderia dizer, um “tempo feminino”.
JEAN LEITÃO.
Professor de Arte e
Artista Plástico.
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