MACAPÁ: das residências quintais ao habitar vertical, signos de uma nova transformação urbanística.
MARINHO, Carla
Graduanda de arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Amapá, AU -2009
e-mail: cmarinho1@hotmail.com
RESUMO
O presente texto vem discorrer sobre o processo de transformação urbanística, a verticalização, que a cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá estar vivenciando, E discutir os reflexos que este processo pode ocasionar em uma cidade.
Palavras – chaves: Macapá, transformação, verticalização.
INTRODUÇÃO
Num contexto histórico recente, a cidade de Macapá, capital do Amapá, vive um processo de transformação já bastante comum e corriqueiro nas demais capitais do país. Uma nova tipologia habitacional surge na paisagem urbana ocasionada pela verticalização. Reflexo de um processo de urbanização espacial que vem ocorrendo em parte pelo movimento populacional que se expande provocando mudanças em uma cidade que apesar de ser capital, ainda apresenta características de um centro urbano de médio porte em relação às demais capitais onde muitas já se configuram como grandes metrópoles.
DESENVOLVIMENTO
A cidade de Macapá, localizada na região norte do Brasil, possui uma população de aproximadamente 366. 484 habitantes. Uma de suas características peculiar é ser a única capital do Brasil a ser cortada pela linha imaginária do equador, dividido os hemisférios norte e sul. Sendo a latitude 0º sinalizada pelo monumento denominado marco zero.
Configura-se como uma cidade onde em seu urbano expressa uma pluralidade étnica e de relações interculturais de pessoas vindas de diversas regiões do país reflexo de um movimento migratório que busca nesta região uma perspectiva de vida e sua reafirmação em um mercado de trabalho, que em determinados momentos é divulgado pela mídia como já um tanto “escasso” ou “inchado” nas demais regiões do país.
[...] Rio Branco, Boa Vista, Macapá e Porto Velho, têm perfil de cidades médias que ligam internamente a região pela via das cidades de menor porte. São referências no mercado formal e informal de trabalho e de troca de bens materiais e simbólicos, e alimentam as relações de sociabilidade e sócio-culturais de aglomerações menores aos centros mais importantes da região
(CASTRO, 2008, p. 33-34)
Inserida na região amazônica, e por sua localização, situada à margem esquerda do rio amazonas, seu povoamento se constituiu sob questões de fronteira e ao processo de colonização portuguesa do século XVII e XVIII que incluiu a construção estratégica de fortificações, dentre elas a construção da Fortaleza de São Jose de Macapá, entre os períodos de 1764 e 1782. Pois segundo especialistas, o processo de urbanização de muitas vilas e posteriores cidades do Brasil ocorreram ao entorno destas fortificações. Sendo a cidade de Macapá um desses exemplos, outrora Villa de São José de Macapá cujo processo espacial de povoamento se deu entorno da referida fortaleza que foi construída para assegurar o domínio da coroa portuguesa na região.
O surgimento ou a criação daquelas que viriam a ser as primeiras cidades da Amazônia não ocorreu de forma autônoma ou dissociada, tampouco se deu de forma diferente da criação do restante das outras cidades portuguesas. Os povoados, as vilas e cidades que foram sendo criadas na Amazônia são demonstrações dos monumentos e das ruínas dos espaços de poder impostos.
(SILVA in: Castro, 2008, p.60)
Vista da urbanização cidade de Macapá antiga com a fortaleza de São José ao fundo. s/d. Fonte: Painel fotográfico localizado no Museu Joaquim Caetano da Silva |
Assim, a cidade de Macapá iniciou seu processo urbanístico de vila a cidade, a partir de uma fortificação. Sua paisagem urbanística foi mudando foram construídas diversas edificações, mas sem uma consciência cultural e patrimonial. E ao mesmo tempo em que novas edificações iam surgindo, as antigas eram “postas ao chão” desde as residências e demais edificações do século XVIII localizadas antes no centro da cidade, nas imediações da catedral de São José, às das décadas de 50, 60,70 como as casas de funcionários do Governo, localizada antes na Rua Mendonça Furtado.
Atualmente, o que se percebe, são pouquíssimas edificações que resguardam, ainda em sua própria arquitetura, a memória, a cultura, e a historia da cidade; uma espécie de imagem materializada, já que as demais somente são lembradas a partir dos registros, imagens fotográficas. No entanto, a prática da não preservação ao patrimônio cultural continua sendo colocada em práxis na cidade onde edificações contendo a memória viva da cidade continuam sendo demolidas para erguerem-se outras novas.
Avenida Mario Cruz. Centro de Macapá antiga com edificações de séculos passados. Ao fundo vista da Catedral de São José. s/d
Fonte: Painel fotográfico localizado no Museu Joaquim Caetano da Silva
Avenida Mario Cruz. Centro. Hoje somente existe como edificações históricas o edifício do Museu Joaquim Caetano à esquerda e a Igreja da Matriz de São José ao Fundo, as demais edificações foram destruídas e atualmente em seus locais existem imóveis comerciais. Ano 2010. Foto: Carla Marinho
Residências de funcionários públicos. Avenida Mendonça Furtado, s/d.
Fonte:http://arquiteturaap.blogspot.com/2010/06/fotos-antigas-de-macapa.html
Residências de funcionários públicos. Avenida Mendonça Furtado, Centro.
Única residência ainda existente, ano 2010. Foto: Carla Marinho
Residências de funcionários públicos demolida recentemente.
Avenida Mendonça Furtado, Centro.
Hoje restando somente uma, ano 2010. Foto: Carla Marinho
E neste contexto de desconstrução da memória para a construção do novo, de uma cidade de médio porte, onde ainda predomina em sua paisagem as residências com seus quintais arborizados, é que vem surgindo um novo signo de transformação urbanística: o habitar vertical; a verticalização.
Ao falar de verticalização não se deve pensar somente em modernidade, ou de uma nova estética visual que surge na urbe, mas também, deve-se pensar consciente sobre questões de qualidade ambiental e quais as implicações positivas e negativas que o processo de crescimento vertical provoca em uma cidade.
Esta nova estética visual vem se configurando na paisagem da cidade de Macapá, uma dinâmica recente, onde se observa as elevações de edificações com mais de 10 pavimentos serem erguidas, sobretudo, nos bairros tradicionais como: Santa Rita, Jesus de Nazaré e Centro. Áreas consideradas privilegiadas por estarem próximas as áreas comerciais e dos locais onde são desenvolvidas as atividades de trabalho. No entanto, é necessário que se pense numa verticalização planejada nestes espaços urbanos, pois um mau planejamento poderá implicar em mudanças sociais e culturais destes bairros, que possui ainda características residenciais, passando a se tornar espaços comerciais (supermercados, lojas, etc) com um novo padrão de consumo, ou seja, mudando a sua característica arquitetônica, sua memória de bairro para atender a classe social que virá habitar nessas edificações.
Essa verticalização recente vem representando para a cidade de Macapá símbolos de inovações, no entanto, é necessário que não se pense o novo afastando-se de uma consciência cultural e patrimonial. Para que essa nova mudança espacial e estética não se constitua um caráter negativo para cidade, como ocorreu e continua ocorrendo em várias cidades do país.
Quinze anos passaram-se e este fugaz processo misto de consumo e ocupação não cessou. Hoje afloram incansáveis na paisagem urbana, verdadeiras hastes habitacionais, com seus mais de vinte pavimentos. Fincam-se inexpugnáveis sobre o solo esses esguios paralelepípedos de concreto armado, onde habitam (ou seria onde se esquivam?) os representantes das classes alta e média-alta da cidade do Recife. À medida que multiplicam se e projetam-se verticalmente esses novos habitáculos, simultânea e proporcionalmente expandem-se pelo eixo horizontal os cada vez mais colossais hiper-mercados e os hopping centers, numa espécie de simbiose urbana.
(ALMEIDA, Fernando Antonio da Silva, RECIFE PERPENDICULAR)
Vista da cidade de Macapá, predominando em sua paisagem as residências com quintais arborizados, ao centro indícios de verticalização, edifício residencial Turmalina Residence, primeiro edifício residencial com mais de 10 pavimentos a ser construído em Macapá no processo de verticalização da cidade.
Fonte: http://www.mochileiro.tur.br/macapa.htm
Detalhe do edifício residencial turmalina residence
Rua Paraná. Bairro Santa Rita. Ano: 2010. Foto: Carla Marinho
Vista da cidade de Macapá, processo de verticalização
Macapá 2010. Foto: Carla Marinho
Edifício residencial rio amazonas, Avenida Profª Cora de Carvalho.
Bairro Centro, processo de verticalização
Macapá, 2010. Fonte: Carla Marinho
Edifício Comercial, Rua Manoel Eudóxio Pereira.
Bairro Santa Rita, processo de verticalização
Macapá, 2010. Foto: Carla Marinho
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discorrer sobre o processo de verticalização nesse artigo tem como um dos intuitos não uma posição pessimista ou contraria a respeito dessa nova mobilidade espacial que ocorre na cidade de Macapá. Uma das intenções é de que se verticalize, mas que ocorra uma verticalização consciente, planejada e que se respeite e valorize a memória cultural e material deste espaço urbano. É necessário um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental que não se restrinja somente aos limites teóricos e sim funcione com efetividade na prática. Que se realize estudo prévio de impactos de vizinhança; que se analisem os efeitos positivos e negativos que essas edificações podem trazer àquele espaço especifico onde serão construídos, e que se criem recursos, infra-estrutura que englobem questões que vão desde a ventilação, limites de pavimentos à questões: patrimonial, cultural, e trafego urbano, em prol de uma boa qualidade de vida das pessoas que habitam o espaço social da cidade de Macapá.
REFERENCIAS
ALMEIDA, Fernando Antonio da Silva, RECIFE PERPENDICULAR, http://fernandoalmeida.arq.br/recifeperp.htm. Acesso em: 12/08/2010.
CASTRO, Edna (org.). Cidades na Floresta. São Paulo: Annablume, 2008.
Fotos antigas da Cidade de Macapá. Site http://arquitetura-ap.blogspot.com/2010/06/fotos-antigas-de-macapa.html. Acesso em: 12/08/2010.
OLIVEIRA, Augusto, et al . Amazônia, Amapá: escritos de História. Belém: Paka-tatu, 2009
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