O imaginário sobre a Fortaleza de São José de Macapá
Autor: José Alberto Tostes
Artigo foi publicado no dia 07 de abril de 2012 no Jornal Tribuna Amapaense.
Participei esta semana em João Pessoa na Paraíba de uma Banca de Mestrado sobre a Fortaleza de São José de Macapá da mestranda Carla Marinho, Tem sido importante para o estado do Amapá que um bom número de professores, pesquisadores estejam se qualificando para melhorar o nível de participação e construção da educação em nosso Estado. O tema deste trabalho insere a Fortaleza de São José de Macapá, uma das maiores fortificações da região e do país como um símbolo no imaginário escolar, é algo expressivo para um universo cultural em que vivemos hoje. Entre os pontos mais importantes do trabalho de Carla Marinho, está a correlação com os vínculos de uma comunidade pró-ativa de afrodescendentes do Bairro do Laguinho, criando um link com a história raiz da própria cidade de Macapá. Sobre este universo, reside a comunidade e a escola que contribuíram muito para o desenvolvimento da cultura local, evidenciando as tradições, além de ser uma das mais antigas da cidade de Macapá.
Realizar pesquisas sobre o Amapá tem sido crucial para resgatar fatos importantes. Sobre a Fortaleza de São José existem trabalhos como de Renata Araújo realizado em Portugal e de Fernando Canto, em ambos os trabalhos, estão expressos a riqueza e a diversidade sobre a construção da Fortaleza, propósitos que vão além dos muros construídos.
Não há em nossa história uma edificação que tenha sido tão reproduzida como a Fortaleza de São José de Macapá, apesar de não ter a idade da cidade de Macapá de 254 anos, esta edificação é o elo mais forte que vincula a relação entre o passado e o presente, e por que não dizer, o futuro. Somente nos últimos trinta anos, mais de vinte projetos foram elaborados para esta edificação.
Discutir a Fortaleza é muito mais que somente fazer apologias históricas sobre datas cronológicas, é dar efeito as diferentes visualidades elaboradas a partir da localização à beira do rio Amazonas. Nesta interpretação cabe relatar os inúmeros personagens que deram “vida” a Fortaleza, como não pensar sobre os trabalhos pictóricos de R. Peixe, talvez, este pintor, tenha sido o artista que tenha revelado o caráter bucólico do lugar, totalmente esquecido pelo Pará durante décadas. A maior expressão no trabalho de Peixe, está no entorno do Forte, caracterizado pela dinâmica movida através do rio Amazonas e dos inúmeros moradores que se localizavam às margens.
No trabalho de Carla Marinho, há um enfoque importante, a quase totalidade da população que vivia às margens do rio Amazonas e no entorno da Fortaleza foram retirados quando o Amapá foi transformado em Território Federal, ali havia um motivo, redimensionar a faixa litorânea do rio Amazonas, com isso, criou-se o Bairro do Laguinho, área que cresceu e fortaleceu as tradições da cultura afrodescente no Amapá, deu legitimidade ao Marabaixo. O Bairro do Laguinho pressupõe “lócus” da cidade, quando me refiro a este ponto, reside exatamente no imaginário e na visualidade histórica sobre a Fortaleza, memórias e referências da cidade.
No ano de 2009, oportunidade em que a Fortaleza comemorava 228 anos de fundação, participei de uma mesa de debates sobre a importância da edificação, nesta mesa debates, havia quatro pessoas com características distintas: um poeta, um artista plástico, historiador e um arquiteto, todos falaram sobre o significado e valor do monumento, lembro da intervenção do poeta que disse: - “ falta algo para completar a Fortaleza, colar o cordão umbilical”. ele estava se referindo da relação do Forte com o rio Amazonas. Esta frase foi expressiva, durante décadas a Fortaleza ficou isolada do rio e da própria população, período em que foi completamente administrada por uma ótica que isolou a edificação da população.
A proposta do trabalho de Carla Marinho irá dimensionar a possibilidade de perceber a visualidade da monumentalidade da Fortaleza de São José de Macapá, presente no imaginário de uma Escola do Bairro do Laguinho. Tal visualidade será percebida e representada. É preciso ter a clareza que apesar de todo este contexto sobre a Fortaleza, este monumento ficou décadas literalmente abandonado, somente a partir do tombamento na década de 1950, passou a ter outro redimensionamento. Realizar interpretações deste tipo contribui para que as novas gerações compreendam e assimilem que o passado não é algo ultrapassado, mas sim, a fonte de nossa inspiração, de nossas raízes, e principalmente de nossa identidade.
Os trabalhos que vem sendo produzidos sobre a realidade amapaense precisam de suporte e apoio para redimensionar o estágio de nossa memória cultural. Sobre a Fortaleza, tudo o que for dito será pouco para expressar o que representa mais de duzentos anos de história, a cidade, o elo de tudo isso, deve acolher este imaginário, ali começou tudo, não cronologicamente, mas na vinculação da nossa identidade. Diz o ditado popular: “ O povo tem memória curta”, na realidade, não é a memória que é curta, mas o valor simbólico que ainda não foi totalmente assimilado. Para que tudo isso cresça ainda mais, imprescindivel conhecer aquilo que mostra a essência, o “DNA” da cidade. Como diz o grande pensador italiano Giulio Carlo Argan: -”As edificações representam o significado, a cultura e a identidade de um povo”.
Publicação: 07 de abril de 2012
Fonte:http://josealbertostes.blogspot.com.br/2012/04/o-imaginario-sobre-fortaleza-de-sao.html
Acesso em: 10/04/2012
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