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sábado, 9 de janeiro de 2016

Artigo Carla Marinho e a Arte Contemporânea em suas obras. Autoras: Amanda Tenório, Estefane Fernandes, Natália Gonçalves



AMANDA TENÓRIO

ESTÉFANE DA SILVA FERNANDES
NATÁLIA GONÇALVES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

PROFº. MESTRE HUMBERTO MAURO
Macapá- Amapá - 2015 




CARLA MARINHO E A ARTE CONTEMPORÂNEA EM SUAS OBRAS.



Resumo: Este artigo tem como objetivo evidenciar a Arte Contemporânea em solo amapaense, permeando suas narrativas e evidenciando suas características nas obras da artista Carla Marinho. Para isto, como objeto de pesquisa, são utilizadas suas criações que contem em sua poética propostas, técnicas e aspectos que coincidem com as de outros artistas que percorrem o mesmo segmento artístico, como a busca e inspiração nos impulsos espontâneos da arte infantil, ou ainda, temas cotidianos, criando então, um diálogo com a cultura popular com temas de relevância social. Além da obtenção hibrida de tendências artísticas e de materiais que permite liberdade ao artista em seu fazer artístico.



Palavras-chave: Carla Marinho. Arte Contemporânea. Madeira.
Abstract: This article aims to show contemporary art in Amapá ground, permeating their stories and highlighting its features in the works of artist Carla Marino. For this, as an object of research, they are used their creations containing in its poetic proposals , techniques and aspects that coincide with those of other artists who travel the same artistic sector, such as search and inspiration from the spontaneous impulses of childlike, or , everyday topics , creating so a dialogue with popular culture with themes of social relevance . In addition to the hybrid obtaining artistic trends and materials that allows freedom to the artist in his art making.
Keywords: Carla Marino. Contemporary art. Wood.


INTRODUÇÃO
Assim como ocorre em toda história, os artistas manifestam através de sua arte o pensamento de certa época, a sociedade, as questões religiosas, políticas, socioeconômicas que vivenciam. O artista contemporâneo traz consigo características próprias, buscando em suas criações exprimir sua visão sobre o mundo que o cerca, tendo uma ampla disposição para a experimentação, permitindo o alcance de fusão de linguagens, materiais e tecnologias. No Amapá, a artista Carla Marinho se destaca no estilo Contemporâneo, pois explora em seus trabalhos uma narrativa poética que “foge” do tradicionalismo regional que retrata a fauna e a flora, o povo e seus costumes de forma romantizada, realista. A artista busca em seus trabalhos propostas que abordam temas empíricos, relatando acontecimentos do cotidiano de grande relevância social. Entre suas obras, a série Indícios chama atenção por conter em sua composição atributos ao mesmo tempo do figurativismo e do abstracionismo. Embora, estes dois estilos oponham-se, neste cenário artístico se completam.

As obras de arte são criadas a partir do diálogo e da vivência do artista com o contexto social, político, econômico, filosófico, em que está inserido. Sendo assim, as características presentes no mundo contemporâneo refletem na arte, seja na postura do artista, no conceito da arte ou nas características apresentadas nas diferentes linguagens artísticas.
A artista Carla Marinho trabalha com o foco em produções tanto acadêmicas quanto contemporâneas, englobando categorias como desenho, pintura, objetos, apropriações, instalações e intervenções. Sendo que, atualmente, os focos temáticos que vêm permeando sua produção artística são: cotidiano, memória, gênero feminino e autobiografia.
A artista amapaense busca referências visuais em pessoas e cenas da própria cidade de Macapá e do cotidiano das pequenas cidades do interior do Estado. Um dos seus objetivos é provocar reflexões acerca do cotidiano de pessoas que possuem pouco poder aquisitivo e também aquelas que são excluídas por algum tipo de preconceito ou por viverem à margem da “sociedade”.
A Série Indícios se desenvolveu de pesquisas iniciadas após a exposição individual, denominada “Madeiras Sobre-Viventes” realizada em 2007/2008, cuja proposta era utilizar a própria matéria- prima: madeira, ora como suporte ora como parte integrante das imagens a partir das próprias texturas que as madeiras sugestionavam. As madeiras são de caixotes de verduras desmontados, coletadas nas ruas e supermercados de Macapá. O foco de debate de sua produção foram às questões de identidade cultural, identidade regional e questões sociais das minorias. A artista passa a questionar a própria linguagem artística; volta-se para a crítica de sua obra e do material a ser usado.

Por um lado, não parece mais haver nenhum material particular que desfrute do privilégio de ser imediatamente reconhecível como material de arte: arte recente tem utilizado não apenas tinta, metal e pedra, mais também ar, luz, som, palavras, pessoas comida e muitas outras coisas. [ACHER, 2001]


Na série indícios, a madeira foi utilizada de forma figurativa, pois a artista buscou explorar o elemento compositivo textura muito presente em madeiras, sendo representação sobre tela de vestígios, dos “indícios” que segundo a artista surgiram ainda na exposição “Madeiras Sobre-Viventes” onde as texturas integravam as imagens.
Carla Marinho optou por não utilizar molduras em suas telas, no intuito de que as representações (os indícios) das texturas das madeiras “falem” por si só sem nenhuma interferência.
Fig.1. Carla Marinho - indícios VII- acrílica sobre tela 60x60 -2009
 


Fonte: Acervo do autor

 
Fig.2. Carla Marinho - indícios I - óleo sobre tela 70x70 - 2009


Fonte: acervo do autor



A série mescla abstração e ao mesmo tempo figuração. Abstração, pois explora as linhas formas cores; incluindo linhas, formas e cores das texturas que trazem os recortes de representação de peças de madeiras. E a figuração é tida nestas próprias simulações de pequenas peças de madeiras que estão no suporte tela.
A artista apropria-se de elementos materiais e outras imagens já existentes, frutos tanto da indústria cultural, como do mercado e dos elementos da cultura popular.


Uma das consequências de a arte ter-se livrado do desenvolvimento passo a passo era a liberdade de buscar inspiração em toda parte: [...] ela agora não precisava restringir-se às belas-artes ou às artes “elevadas”, mas também podia empregar o artesanato ou outras técnicas, materiais e temas culturais “inferiores” onde lhe parecesse adequado (ARCHER, 2001, p. 155-156).
 

O cotidiano na arte contemporânea não aparece somente nos materiais e suportes usados como também nos temas, nas questões que os artistas propõem através de suas obras.
O cotidiano aparece também na discussão de temas como sexualidade, gênero, trabalho, temas sociais, identidade e anonimato, entre tantos outros. Como exemplo, podemos citar o artista Hélio Melo, que em:


[...]suas séries intermináveis somam sapatos, recolhidos nas ruas, lixos e brechós da cidade. São sapatos únicos, sem pares, que o artista enfileira e compõe com outros, formando uma tapeçaria estranha, cheia de história e, ao mesmo tempo, anonimato. Nesse colecionismo, o artista busca também apontar a sociedade e o contexto de contraste entre riqueza e pobreza, estendendo ao trabalho aspectos políticos. Seu trabalho recente inclui auto-imagens fotográficas inseridas em cenas inusitadas. (CANTON, 2001, p. 65-66).
 



As características que se pode perceber nas produções de Carla Marinho em algumas produções são tratadas isoladamente outras vezes interagindo, são:
O dialogo estético do traço preto e branco de linhas do desenho com alguns pontos de atração de cores: foi utilizado na Exposição Madeiras Sobre-Viventes, na série Mulher consumo da exposição coletiva do grupo Juçara em 2011, na Exposição Cuias Relicários de Lembranças (2015).



A ação objet trouvé (onde o/a artista se apropria de objetos do cotidiano e faz uma escolha, uma seleção premeditada): foi utilizado na exposição Madeiras Sobre-Viventes (onde a artista escolheu madeiras de caixotes coletadas nas ruas de Macapá) e na Exposição Cuias Relicários de Lembranças (onde a artista também coletou e escolheu as cuias na cidade onde sua bisavó morou. As cuias eram ao mesmo tempo suporte e ao mesmo, parte da obra na exposição que tratou de memórias familiares sobre sua bisavó).
            A apropriação de imagens que circulam no cotidiano: foi utilizada na série Mulher consumo, onde Carla Marinho se apropriou de imagens de fracos de perfumes famosos que circulam na internet, e na série Toque de Midas (que também foi de uma exposição coletiva do grupo juçara em 2011), onde a artista se apropriou de detalhes das obras.
O dialogo estético de manchas, textos e texturas que determinados objetos/suportes trazem consigo tornando-se parte da própria imagem: foi utilizado na exposição Madeiras Sobre-Viventes, e que de certa forma gerou inspiração para criar a série indícios (que fez parte da exposição coletiva do grupo juçara e 2009) e utilizou também na exposição Cuias Relicários de Lembranças (2015)
Traço de desenho algumas vezes estilizado tendendo para a ilustração: foi utilizado na Exposição Madeiras Sobre-Viventes, na série Mulher consumo da exposição coletiva do grupo Juçara em 2011.
A artista buscou encontrar algum objeto do próprio cotidiano que dialogassem com as cenas que pretendia criar e ao mesmo tempo em que não fosse somente um suporte, mas que ocorresse alguma interação com as imagens criadas.




Artistas contemporâneos podem trabalhar com variados veículos expressivos, da pintura às instalações, do desenho à fotografia, podendo discutir em seus trabalhos questões existenciais, sociais, políticas, ou absolutamente as relações formais e estruturais das suas pesquisas poéticas. Tais situações classificadas como Arte Contemporânea, emergem com força na história a partir das décadas de 50 e 60, persistindo nos dias de hoje, em atividades artísticas isoladas, ou em movimentos já situados no tempo e espaço [VERA MARQUES, 2004].







        A série Indícios foi exposta 2009. No entanto, a peça indícios IX- acrílica sobre tela 33x 46 -2013 foi produzida em 2013 junto com mais 03 peças que nunca foram expostas, totalizando sete peças. Indícios IX fora produzida num momento de inspiração artística, no período em que a artista tirou férias. Essa obra está localizada em Natal, onde mora o amigo da artista que ela presenteou com a obra, assim a localização atual da obra é na cidade de Natal – RN.
A relação da madeira é algo das memórias da infância da artista. Seu pai era carpinteiro e em sua casa havia a oficina dele. Neste local Carla Marinho pegava restos de madeiras e construía alguns brinquedos como, por exemplo, pequenos móveis de madeiras para suas brincadeiras com bonecas em miniaturas. Também era rotineiro que em frente da casa da artista ficassem alguns caminhões, pois o pai da artista consertava ou até mesmo construía carrocerias desses caminhões através de encomendas.




Fig.3. Carla Marinho - indícios IX-acrílica sobre tela 33x46 - 2013

Fonte: acervo do autor

Então a obra: Indícios IX – Acrílica 33 x 46 cm – 2013, quando foi produzida além de abordar as questões de texturas trazidas da exposição Madeiras Sobre-Viventes, já abordada, também traz uma representação de lembranças da infância da artista. Na parte superior da peça, pintada de azul é uma representação das lembranças das carrocerias que ficava na frente da casa da artista na infância, lembranças dos desenhos contidos nas carrocerias de caminhões e na parte de baixo trazem as representações das peças de madeiras que a artista explora e as questões das texturas e veios das madeiras. Levando, uma a forte reflexão sobre temas ambientas, os impactos causados a natureza, buscando a reciclagem como forma de amenizar tais impactos.
CONCLUSÃO
Nunca se teve tanta liberdade criadora, tanta variedade de recursos materiais ao alcance do artista. São múltiplos os caminhos e as possibilidades, as inquietações mais aprofundadas, permitindo à Arte Contemporânea ampliar seu campo de atuação, pois já não se trabalha apenas com objetos concretos, mas, sobretudo com conceitos e atitudes. A reflexão sobre a arte é muito mais importante que a própria arte em si, que já não é o objetivo final, e sim um instrumento de meditação sobre os novos conteúdos formulados no cotidiano pelas aceleradas transformações no mundo atual. O tempo é imortalizado nas obras de Carla Marinho, cujos trabalhos com intervenções em telas e tendo como referência icônica texturas de madeira, estabelece relações dialógicas com a mesma, imortalizando a vida já sem vida da matéria, incentivando-nos, com seus “indícios” formais, a refletir na urgência por uma consciência ambiental, pois somos os principais responsáveis pela agressão à nossa própria vida. E nosso tempo que já não era tão longo se torna a cada dia mais curto.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO:
ARCHER, Michel. Arte contemporânea: uma historia concisa. Trad, Alexandre Krug. Valter Lellis Siqueira.- São Paulo: Martins Fontes, 2001.

CANTON, Kátia. Novíssima Arte Brasileira – um guia de tendências. São Paulo: Iluminuras Ltda., 2001.

MARQUES, Vera. Arte contemporânea: quem tem medo? ECA/UFRJ. Caderno de cultura. Vol.11 n.3. 2005. Disponível em: HTTP://scielo.br/scielo.php? pid= S010237722002000300009escript=sci_abstractetlnpt






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