AMANDA
TENÓRIO
ESTÉFANE
DA SILVA FERNANDES
NATÁLIA
GONÇALVES
UNIVERSIDADE
FEDERAL DO AMAPÁ
PROFº. MESTRE HUMBERTO MAURO
Macapá- Amapá - 2015
CARLA MARINHO E A
ARTE CONTEMPORÂNEA EM SUAS OBRAS.
Resumo:
Este artigo tem como objetivo evidenciar a Arte Contemporânea em solo
amapaense, permeando suas narrativas e evidenciando suas características nas obras
da artista Carla Marinho. Para isto, como objeto de pesquisa, são utilizadas
suas criações que contem em sua poética propostas, técnicas e aspectos que coincidem
com as de outros artistas que percorrem o mesmo segmento artístico, como a
busca e inspiração nos impulsos espontâneos da arte infantil, ou ainda, temas
cotidianos, criando então, um diálogo com a cultura popular com temas de
relevância social. Além da obtenção hibrida de tendências artísticas e de
materiais que permite liberdade ao artista em seu fazer artístico.
Palavras-chave:
Carla Marinho. Arte Contemporânea. Madeira.
Abstract: This article aims to show contemporary art
in Amapá ground, permeating their stories and highlighting its features in the
works of artist Carla Marino. For this, as an object of research, they are used
their creations containing in its poetic proposals , techniques and aspects
that coincide with those of other artists who travel the same artistic sector,
such as search and inspiration from the spontaneous impulses of childlike, or ,
everyday topics , creating so a dialogue with popular culture with themes of
social relevance . In addition to the hybrid obtaining artistic trends and
materials that allows freedom to the artist in his art making.
Keywords: Carla Marino. Contemporary art. Wood.
INTRODUÇÃO
Assim como ocorre em
toda história, os artistas manifestam através de sua arte o pensamento de certa
época, a sociedade, as questões religiosas, políticas, socioeconômicas que
vivenciam. O artista contemporâneo traz consigo características próprias, buscando
em suas criações exprimir sua visão sobre o mundo que o cerca, tendo uma ampla
disposição para a experimentação, permitindo o alcance de fusão de linguagens,
materiais e tecnologias. No Amapá, a artista Carla Marinho se destaca no estilo
Contemporâneo, pois explora em seus trabalhos uma
narrativa poética que “foge” do tradicionalismo regional que retrata a fauna e
a flora, o povo e seus costumes de forma romantizada, realista. A artista busca
em seus trabalhos propostas que abordam temas empíricos, relatando acontecimentos
do cotidiano de grande relevância social. Entre suas obras, a série Indícios
chama atenção por conter em sua composição atributos ao mesmo tempo do
figurativismo e do abstracionismo. Embora, estes dois estilos oponham-se, neste
cenário artístico se completam.
As obras de arte são criadas a partir do
diálogo e da vivência do artista com o contexto social, político, econômico,
filosófico, em que está inserido. Sendo assim, as características presentes no
mundo contemporâneo refletem na arte, seja na postura do artista, no conceito
da arte ou nas características apresentadas nas diferentes linguagens
artísticas.
A artista Carla Marinho trabalha com o
foco em produções tanto acadêmicas quanto contemporâneas, englobando categorias
como desenho, pintura, objetos, apropriações, instalações e intervenções. Sendo
que, atualmente, os focos temáticos que vêm permeando sua produção artística
são: cotidiano, memória, gênero feminino e autobiografia.
A artista amapaense busca referências
visuais em pessoas e cenas da própria cidade de Macapá e do cotidiano das
pequenas cidades do interior do Estado. Um dos seus objetivos é provocar
reflexões acerca do cotidiano de pessoas que possuem pouco poder aquisitivo e
também aquelas que são excluídas por algum tipo de preconceito ou por viverem à
margem da “sociedade”.
A Série Indícios se desenvolveu de
pesquisas iniciadas após a exposição individual, denominada “Madeiras
Sobre-Viventes” realizada em 2007/2008, cuja proposta era utilizar a própria
matéria- prima: madeira, ora como suporte ora como parte integrante das imagens
a partir das próprias texturas que as madeiras sugestionavam. As madeiras são de
caixotes de verduras desmontados, coletadas nas ruas e supermercados de Macapá.
O foco de debate de sua produção foram às questões de identidade cultural,
identidade regional e questões sociais das minorias. A artista passa a
questionar a própria linguagem artística; volta-se para a crítica de sua obra e
do material a ser usado.
Por um lado, não parece mais haver nenhum material
particular que desfrute do privilégio de ser imediatamente reconhecível como
material de arte: arte recente tem utilizado não apenas tinta, metal e pedra,
mais também ar, luz, som, palavras, pessoas comida e muitas outras coisas. [ACHER, 2001]
Na série indícios, a madeira foi
utilizada de forma figurativa, pois a artista buscou explorar o elemento
compositivo textura muito presente
em madeiras, sendo representação sobre tela de vestígios, dos “indícios” que segundo
a artista surgiram ainda na exposição “Madeiras Sobre-Viventes” onde as texturas
integravam as imagens.
Carla Marinho optou por não utilizar
molduras em suas telas, no intuito de que as representações (os indícios) das
texturas das madeiras “falem” por si só sem nenhuma interferência.
Fig.1. Carla Marinho - indícios VII- acrílica sobre tela
60x60 -2009
Fonte: Acervo do autor
Fig.2. Carla Marinho - indícios I - óleo sobre
tela 70x70 - 2009
Fonte: acervo do autor
A série mescla
abstração e ao mesmo tempo figuração. Abstração, pois explora as linhas formas
cores; incluindo linhas, formas e cores das texturas que trazem os recortes de
representação de peças de madeiras. E a figuração é tida nestas próprias
simulações de pequenas peças de madeiras que estão no suporte tela.
A artista
apropria-se de elementos materiais e outras imagens já existentes, frutos tanto
da indústria cultural, como do mercado e dos elementos da cultura popular.
Uma das consequências de a arte ter-se livrado do desenvolvimento
passo a passo era a liberdade de buscar inspiração em toda parte: [...] ela
agora não precisava restringir-se às belas-artes ou às artes “elevadas”, mas
também podia empregar o artesanato ou outras técnicas, materiais e temas
culturais “inferiores” onde lhe parecesse adequado (ARCHER, 2001, p. 155-156).
O cotidiano na arte contemporânea não
aparece somente nos materiais e suportes usados como também nos temas, nas
questões que os artistas propõem através de suas obras.
O
cotidiano aparece também na discussão de temas como sexualidade, gênero, trabalho,
temas sociais, identidade e anonimato, entre tantos outros. Como exemplo,
podemos citar o artista Hélio Melo, que em:
[...]suas
séries intermináveis somam sapatos, recolhidos nas ruas, lixos e brechós da
cidade. São sapatos únicos, sem pares, que o artista enfileira e compõe com
outros, formando uma tapeçaria estranha, cheia de história e, ao mesmo tempo,
anonimato. Nesse colecionismo, o artista busca também apontar a sociedade e o
contexto de contraste entre riqueza e pobreza, estendendo ao trabalho aspectos
políticos. Seu trabalho recente inclui auto-imagens fotográficas inseridas em
cenas inusitadas. (CANTON, 2001, p. 65-66).
As características que se pode perceber
nas produções de Carla Marinho em algumas produções são tratadas isoladamente outras
vezes interagindo, são:
O dialogo estético do traço preto e
branco de linhas do desenho com alguns pontos de atração de cores: foi
utilizado na Exposição Madeiras Sobre-Viventes, na série Mulher consumo da
exposição coletiva do grupo Juçara em 2011, na Exposição Cuias Relicários de
Lembranças (2015).
A ação objet trouvé (onde o/a artista se apropria de objetos do cotidiano
e faz uma escolha, uma seleção premeditada): foi utilizado na exposição
Madeiras Sobre-Viventes (onde a artista escolheu madeiras de caixotes coletadas
nas ruas de Macapá) e na Exposição Cuias Relicários de Lembranças (onde a
artista também coletou e escolheu as cuias na cidade onde sua bisavó morou. As
cuias eram ao mesmo tempo suporte e ao mesmo, parte da obra na exposição que tratou
de memórias familiares sobre sua bisavó).
A apropriação de imagens que circulam
no cotidiano: foi utilizada na série Mulher consumo, onde Carla Marinho se
apropriou de imagens de fracos de perfumes famosos que circulam na internet, e
na série Toque de Midas (que também foi de uma exposição coletiva do grupo juçara
em 2011), onde a artista se apropriou de detalhes das obras.
O dialogo estético de manchas, textos e
texturas que determinados objetos/suportes trazem consigo tornando-se parte da
própria imagem: foi utilizado na exposição Madeiras Sobre-Viventes, e que de
certa forma gerou inspiração para criar a série indícios (que fez parte da
exposição coletiva do grupo juçara e 2009) e utilizou também na exposição Cuias
Relicários de Lembranças (2015)
Traço de desenho algumas vezes
estilizado tendendo para a ilustração: foi utilizado na Exposição Madeiras
Sobre-Viventes, na série Mulher consumo da exposição coletiva do grupo Juçara
em 2011.
A artista buscou encontrar algum objeto
do próprio cotidiano que dialogassem com as cenas que pretendia criar e ao
mesmo tempo em que não fosse somente um suporte, mas que ocorresse alguma
interação com as imagens criadas.
Artistas contemporâneos podem trabalhar com
variados veículos expressivos, da pintura às instalações, do desenho à
fotografia, podendo discutir em seus trabalhos questões existenciais, sociais,
políticas, ou absolutamente as relações formais e estruturais das suas
pesquisas poéticas. Tais situações classificadas como Arte Contemporânea,
emergem com força na história a partir das décadas de 50 e 60, persistindo nos
dias de hoje, em atividades artísticas isoladas, ou em movimentos já situados
no tempo e espaço [VERA
MARQUES, 2004].
A série Indícios foi exposta 2009. No
entanto, a peça indícios IX- acrílica sobre tela 33x 46 -2013 foi produzida em
2013 junto com mais 03 peças que nunca foram expostas, totalizando sete peças. Indícios
IX fora produzida num momento de inspiração artística, no período em que a
artista tirou férias. Essa obra está localizada em Natal, onde mora o amigo da
artista que ela presenteou com a obra, assim a localização atual da obra é na
cidade de Natal – RN.
A relação da madeira é algo das memórias
da infância da artista. Seu pai era carpinteiro e em sua casa havia a oficina
dele. Neste local Carla Marinho pegava restos de madeiras e construía alguns
brinquedos como, por exemplo, pequenos móveis de madeiras para suas brincadeiras
com bonecas em miniaturas. Também era rotineiro que em frente da casa da artista
ficassem alguns caminhões, pois o pai da artista consertava ou até mesmo construía
carrocerias desses caminhões através de encomendas.
Fig.3.
Carla Marinho - indícios IX-acrílica sobre tela 33x46 - 2013
Fonte: acervo do autor
Então a obra: Indícios IX – Acrílica 33 x 46 cm –
2013, quando foi produzida além de abordar as questões de texturas trazidas da
exposição Madeiras Sobre-Viventes, já abordada, também traz uma representação
de lembranças da infância da artista. Na parte superior da peça, pintada de
azul é uma representação das lembranças das carrocerias que ficava na frente da
casa da artista na infância, lembranças dos desenhos contidos nas carrocerias
de caminhões e na parte de baixo trazem as representações das peças de madeiras
que a artista explora e as questões das texturas e veios das madeiras. Levando,
uma a forte reflexão sobre temas ambientas, os impactos causados a natureza,
buscando a reciclagem como forma de amenizar tais impactos.
CONCLUSÃO
Nunca se teve tanta
liberdade criadora, tanta variedade de recursos materiais ao alcance do artista.
São múltiplos os caminhos e as possibilidades, as inquietações mais aprofundadas,
permitindo à Arte Contemporânea ampliar seu campo de atuação, pois já não se
trabalha apenas com objetos concretos, mas, sobretudo com conceitos e atitudes.
A reflexão sobre a arte é muito mais importante que a própria arte em si, que
já não é o objetivo final, e sim um instrumento de meditação sobre os novos
conteúdos formulados no cotidiano pelas aceleradas transformações no mundo
atual. O tempo é imortalizado nas obras de Carla Marinho, cujos trabalhos com intervenções
em telas e tendo como referência icônica texturas de madeira, estabelece
relações dialógicas com a mesma, imortalizando a vida já sem vida da matéria,
incentivando-nos, com seus “indícios” formais, a refletir na urgência por uma
consciência ambiental, pois somos os principais responsáveis pela agressão à
nossa própria vida. E nosso tempo que já não era tão longo se torna a cada dia
mais curto.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO:
ARCHER, Michel. Arte
contemporânea: uma historia concisa. Trad, Alexandre Krug. Valter Lellis
Siqueira.- São Paulo: Martins Fontes, 2001.
CANTON, Kátia.
Novíssima Arte Brasileira – um guia de tendências. São Paulo: Iluminuras Ltda.,
2001.
MARQUES, Vera. Arte
contemporânea: quem tem medo? ECA/UFRJ. Caderno de cultura. Vol.11 n.3. 2005.
Disponível em: HTTP://scielo.br/scielo.php? pid=
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