Produção artística que esteve na exposição "Transposição" , coletiva do grupo Juçara realizada na 5ª Primaveira dos Museus. Local: Galeria Nazaré Trindade. Museu Fortaleza de São José de Macapá, no período de 19 a 30/09/2011.
SÉRIE
MULHER-CONSUMO
Por Carla Marinho
A contemporaneidade tem se caracterizado por diversos
aspectos como a hibridez cultural, ênfase das imagens inserida diariamente na
vida dos atores sociais, a valorização do corpo e da beleza aos ditames de uma
sociedade global. Um universo
informacional de estrutura dinâmica que não é ingênuo e se faz presente no
cotidiano de uma sociedade instável que molda e re - molda identidades
definidas por muitos teóricos como pós-modernidade, sociedade do espetáculo e
por que não dizer sociedade líquida, termo caracterizado pelo teórico Zygmunt
Bauman:
Tudo é temporário.
É por isso que sugeri a metáfora da "liquidez" para caracterizar o
estado da sociedade moderna, que, como os líquidos, se caracteriza por uma
incapacidade de manter a forma. Nossas instituições, quadros de referência,
estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se
solidificar em costumes, hábitos e verdades "auto-evidentes".
(BAUMAN apud BURKE, 2003, p. 3)
Nesta Sociedade Líquida, a mulher é percebida sobre
diversos olhares como, por exemplo, a da mulher independente, que conquistou e
vem conquistando o reconhecimento quanto a sua valorização profissional. No
entanto, nesta mesma sociedade que percebe a mulher em sua autonomia, existem
imagens e outros artefatos culturais que são repletos de significados capazes
de modificar identidades, definirem posições sócias, estilo de vida, e estabelecerem
estereótipos. Dentre esses estereótipos, a figura da mulher ainda é concebida,
por muitos, de maneira pejorativa ou como mulher objeto. Como observamos nos
meios midiáticos as chamadas “mulheres-frutas”.
Alguns anunciantes
ainda insistem em utilizar o arquétipo de mulher objeto, mulher fatal para
seduzir as destinatárias das mensagens publicitárias. Por outro lado,
assistimos também a reprodução das mulheres contemporâneas nos anúncios onde
elas buscam o bem-estar, a felicidade e são protagonistas de suas próprias
vidas.
(NISHIDA, 2006, p.12)
Dentre
esses os artefatos têm-se os perfumes, que segundo França (2010) a
indústria da perfumaria, vem investindo no ideal “de que os fragrantes funcionam como um prolongamento da
pele ou como uma roupa que a reveste, refletindo a personalidade e o estilo de
vida do usuário”. E
esses conceitos são transferidos para os invólucros (vidros) de perfumes. Que
em alguns frascos ainda refletem ditames tradicionalistas.
Os frascos simulam
personalidades e estilos de vida: priorizam as funções simbólicas, realçam os
valores semânticos, propondo formas de se portar, instaurando marcas de
construções de subjetividades. São simulacros que reinventam os corpos, as
percepções do entorno, das crenças, da arte e dos objetos cotidianos. Provocam
efeitos sinestésicos que colocam em conjunção os estereótipos e as
representações das práticas sociais.
(FRANÇA, 2010, p.170)
Assim sendo, surge a série
denominada MULHER-CONSUMO, que vem discutir metaforicamente as questões
levantadas a partir dos frascos de perfumes de marcas famosas conhecidas
nacional e mundialmente. Os frascos, impressos em jato de tinta no suporte
papel canson, tornam-se a extensão dos corpos femininos que são desenhados em
caneta hidrográfica preta.
Nesta série a artista se propõe a
discutir questões tais como:
-A ênfase com o consumo, a beleza e
o corpo na sociedade atual, como observado em Campos:
A padronização de
um modelo de corpo, segundo as regras sucitadas e incansavelmente pregadas pela
Indústria Cultural, diz respeito à noção do corpo como símbolo, o corpo mídia.
Este corpo, que surge nos anúncios de forma tão explícita, é aquele almejado
pelas pessoas, vez que é diariamente propagado nos meios de comunicação de
massa e eleva o número de pacientes nos consultórios de cirurgia plástica e
clínicas de estética, os esportistas nas academias, especialmente na época que
antecede o verão (em que, no Brasil, os corpos ganham ainda mais visibilidade).
(CAMPOS, 2005, p.134)
-O uso de estereótipos vinculados na
mídia para rotular posições na sociedade
como as chamadas “mulheres-frutas”.
-A “normatização” do corpo feminino
que a indústria cultural em muitos anúncios
publicitários como os de perfumes expõem mulheres magras com porte de modelos, ou mulheres
sensuais, apesar de que segundo Nishida
(2006): “assistimos também a reprodução das mulheres contemporâneas nos anúncios onde elas buscam o bem-estar, a
felicidade e são protagonistas de
suas próprias vidas.”
Referências:
BAUMAN,
Zygmunt. A Sociedade Líquida In: BURKE,
Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke. Folha de S. Paulo, São Paulo,
domingo, 19 de outubro de 2003.http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/4_Encontro_Entrevista_A_Sociedade_Liquida_1263224949.pdf
Acesso em 13/08/2011.
CAMPOS,
Camila Craveiro da Costa. Corpo-Mídia ou Corpo Suporte? – representações do
signo corpo em publicidades de perfumes. Dissertação
de mestrado Universidade
Estadual Paulista. Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicação. Pós-
graduação em Comunicação midiática- BAURU / SP 2005. http://www.faac.unesp.br/posgraduacao/Pos_Comunicacao/pdfs/camilacraveiro.pdf
Acesso em 13/08/2011.
FRANÇA, Maureen Schaefer. Transparências e fragrâncias:
materialidades simbólicas nas embalagens de perfume. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi
Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010.
http://sitios.anhembi.br/damt/arquivos/37.pdf
Acesso em 13/08/2011.
NISHIDA,Neusa
Fumie. A imagem da mulher na
publicidade: cenário dasrepresentações da ética de responsabilidade UNIrevista
- Vol. 1, n° 3, julho 2006. http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Nishida.PDF
Acesso em 13/08/2011.
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